Tipologia da transexualidade de Blanchard

A tipologia do transexualismo de Blanchard é uma tipologia psicológica proposta de disforia de gênero, transexualidade e travestismo fetichista, criada por Ray Blanchard durante os anos 1980 e 1990, com base no trabalho de pesquisadores anteriores, incluindo seu colega Kurt Freund. Blanchard classificou a mulheres trans em dois grupos: homossexuais transexuais (HsTs), que são atraídas exclusivamente por homens e que procuram cirurgia de redesignação de sexo porque são femininas no comportamento e na aparência; e transexuais autoginefílicos (AGP) que são sexualmente excitados com a ideia de ter um corpo feminino.[1] De acordo com Anne Lawrence, a tipologia de Blanchard rompeu com as anteriores, que "excluíam o diagnóstico de transexualismo" para a excitação em resposta ao cross-dressing.[2] Alice Dreger afirmou que Blanchard, Bailey e Lawrence concordam que qualquer mulher trans que se beneficiaria com a cirurgia de redesignação sexual deveria recebê-la.[3]

Os defensores da tipologia incluem os sexólogos J. Michael Bailey,[3] James Cantor,[4] e Anne Lawrence;[2] a bioética Alice Dreger;[5] e outros.[6][7] Dreger afirma que "existem muitos outros sexólogos profissionais que levam a sério a tipologia de Blanchard", citando 13 autores.[3] Os defensores argumentam que a tipologia explica as diferenças entre os dois grupos na não-conformidade de gênero na infância, orientação sexual, histórico de fetichismo e idade de transição.[2][6][8]

Críticas à tipologia vieram dos sexólogos John Bancroft e Charles Allen Moser, e da psicóloga Margaret Nichols.[9] A ativista transgênero Julia Serano criticou a escolha de palavras de Blanchard como confusa e degradante.[10] A organização World Professional Association for Transgender Health contestou à inclusão de uma menção à autoginefilia que foi adicionada ao DSM-5, chamando-a de teoria não comprovada.[11][12][13] A tipologia também tem sido objeto de controvérsia dentro da comunidade transgênero e chamou a atenção do público com a publicação de The Man Who Would Be Queen de Bailey em 2003.[3]

A tipologia de Blanchard não é usada para avaliar adolescentes ou adultos com disforia de gênero/gênero incongruente para tratamento endócrino,[14] e sua tipologia não é usada em cuidados de afirmação de gênero em geral.[15][16]

  1. Bancroft, John (2009). «Transgender, gender nonconformity and transvestism». Human Sexuality and its Problems. Elsevier 3rd ed. [S.l.: s.n.] pp. 290–291. ISBN 978-0-443-05161-6 
  2. a b c Lawrence, Anne A. (9 de dezembro de 2012). Men Trapped in Men's Bodies: Narratives of Autogynephilic Transsexualism (em inglês). [S.l.]: Springer Science & Business Media 
  3. a b c d Dreger, Alice D. (2008). «The Controversy Surrounding The Man Who Would Be Queen: A Case History of the Politics of Science, Identity, and Sex in the Internet Age». Archives of Sexual Behavior. 37 (3): 366–421. ISSN 0004-0002. PMC 3170124Acessível livremente. PMID 18431641. doi:10.1007/s10508-007-9301-1 
  4. Guillamon, Antonio; Junque, Carme; Gómez-Gil, Esther (2016). «A Review of the Status of Brain Structure Research in Transsexualism». Archives of Sexual Behavior. 45: 1615–1648. ISSN 0004-0002. PMC 4987404Acessível livremente. PMID 27255307. doi:10.1007/s10508-016-0768-5 
  5. «Answers to Some Questions about Autogynephilia». alicedreger.com 
  6. a b Cantor, James M.; Sutton, Katherine S. (2014). «Paraphilia, Gender Dysphoria, and Hypersexuality». In: Blaney; Krueger; Millon. Oxford Textbook of Psychopathology. Oxford University Press. [S.l.: s.n.] pp. 593, 602–604. ISBN 978-0-19-981177-9 
  7. Sánchez, Francisco J.; Vilain, Eric (2013). «Transgender Identities: Research and Controversies». In: Patterson; D'Augelli. Handbook of Psychology and Sexual Orientation. Oxford University Press. [S.l.: s.n.] pp. 47–48. ISBN 978-0-1997-6521-8 
  8. «The man who would be queen : the science of gender-bending and transsexualism : Bailey, J. Michael : Free Download, Borrow, and Streaming». Internet Archive (em inglês). Consultado em 8 de agosto de 2020 
  9. Ph.D, Margaret Nichols (1 de janeiro de 2014). «A Review of "Men Trapped in Men's Bodies: Narratives of Autogynephilic Transsexualism"». Journal of Sex & Marital Therapy. 40 (1): 71–73. ISSN 0092-623X. doi:10.1080/0092623X.2013.854559 
  10. 'Serano, Julia M.(2010) The Case Against Autogynephilia', International Journal of Transgenderism, 12:3, 176 — 187 DOI:10.1080/15532739.2010.514223
  11. Ph.D, Thomas E. Bevan (17 de novembro de 2014). The Psychobiology of Transsexualism and Transgenderism: A New View Based on Scientific Evidence: A New View Based on Scientific Evidence (em inglês). [S.l.]: ABC-CLIO 
  12. Gijs, Luk; Carroll, Richard A. (2 de março de 2010). «Should Transvestic Fetishism Be Classified in DSM 5? Recommendations from the WPATH Consensus Process for Revision of the Diagnosis of Transvestic Fetishism». International Journal of Transgenderism. 12 (4): 189–197. ISSN 1553-2739. doi:10.1080/15532739.2010.550766 
  13. Knudson, Gail; Cuypere, Griet De; Bockting, Walter (1 de outubro de 2011). «Second Response of the World Professional Association for Transgender Health to the Proposed Revision of the Diagnosis of Transvestic Disorder for DSM 5». International Journal of Transgenderism. 13 (1): 9–12. ISSN 1553-2739. doi:10.1080/15532739.2011.606195 
  14. Hembree, Wylie C; Cohen-Kettenis, Peggy T; Gooren, Louis; Hannema, Sabine E; Meyer, Walter J; Murad, M Hassan; Rosenthal, Stephen M; Safer, Joshua D; Tangpricha, Vin (1 de novembro de 2017). «Endocrine Treatment of Gender-Dysphoric/Gender-Incongruent Persons: An Endocrine Society* Clinical Practice Guideline». The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism (em inglês). 102 (11): 3869–3903. ISSN 0021-972X. doi:10.1210/jc.2017-01658 
  15. Coleman, Eli (2017). «Standards of Care for the Health of Transsexual, Transgender, and Gender-Nonconforming People». Elsevier: 69–75. ISBN 978-0-12-803506-1 
  16. Prunas, A. (1 de julho de 2019). «The pathologization of trans-sexuality: Historical roots and implications for sex counselling with transgender clients». Sexologies. Sexualités LGBT : nouvelles approches ? LGBT Sexualities : new approaches ? (em inglês). 28 (3): e54–e60. ISSN 1158-1360. doi:10.1016/j.sexol.2019.06.002 

© MMXXIII Rich X Search. We shall prevail. All rights reserved. Rich X Search